São 9:30 da noite e eu estava pendurando cuecas e 169 calcinhas que eu tinha esquecido na máquina, depois de passar a tarde inteira numa festa de criança. As costas doem.
Meu marido tinha reclamado mais cedo que, às vezes, parece que ele é só um provedor, que é só pra isso que ele serve.
Estamos sobrecarregados. Criar uma família é punk. A rotina, insana muitas
vezes com 3 crianças, engole.
Os sonhos vão ficando pra trás.
Quando me perguntam: que horas você escreve seus livros e faz suas ilustrações? Eu respondo: nas brechas. Já escrevi sobre isso.
Fui me reencontrando nas brechas que a vida me deu porque depois de ser mãe você não é mais nada daquilo que você era. Você é outra versão de você. Melhorada em algumas coisas, piorada em outras, muitas vezes irreconhecível até pra você mesma. Mas se você não se agarrar nos pequenos feixes de luz das brechas, pode ter certeza que a vida vai te dar um caldo. Um tsunami que vai te arrastando, você não tem como lutar contra.
Mas se você teve o colhão de se agarrar a um fio desse seu sonho e nessa brecha da vida, começou a construir algo, esse texto é pra você. Não desista.
O mundo não é para amadores. Vista sua melhor roupa, lave a louça, leve as crianças no colégio, faça um arroz e espere a brecha. Você está pronta! Já está com a roupa de ir.
Eu sei que sua lista de afazeres em casa é interminável e invisível muitas vezes. Acredita em mim, eu sei. Assim também é sua lista para realizar algo pessoal. Algo da mulher que lembra um pouco aquela outra que você foi um dia.
Sem remorso. Vai.
Não deixa de tentar.
Eu te prometo que vai valer a pena.
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